quarta-feira, 21 de julho de 2010

DIAGNÓSTICO ERRADO

Tenho pavor de ler essas matérias que foram publicadas recentemente sobre diagnóstico errado de câncer de mama. Algumas pacientes nos EUA e na Inglaterra, foram submertidas a cirurgias e tratamentos quimioterápicos no combate ao câncer, que por sua vez, não existia. 

A cada dia que passa, o número de mulheres só vem aumentando. Tenho confiança nos meus médicos, nos exames etc, mas não tem como não pensar que de repente, isso também aconteceu comigo. 

Mas Deus sab o que faz...

Bjos  


Diagnóstico errado de câncer pode
aumentar com teste precoce




Stephanie Saul
George El Khouri Andolfato

Monica Long esperava uma consulta de rotina. Mas lá estava ela sentada no consultório de seu novo oncologista, e ele estava dando uma notícia perturbadora.

Quase um ano antes, em 2007, um patologista de um pequeno hospital em Cheboygan, Michigan, tinha encontrado um estágio inicial de câncer de mama em uma biopsia. Uma extensa cirurgia se seguiu, retirando um pedaço do tamanho de uma bola de golfe do seio direito de Long.

Agora ela estava sendo informada que o patologista tinha cometido um erro. Seu novo médico tinha certeza que ela não tinha a doença, chamada carcinoma ductal in situ, ou CDIS. Tudo foi desnecessário – a cirurgia, a radiação, as drogas e, pior de tudo, o medo.

“Psicologicamente, foi horrível”, disse Long. “Eu nunca deveria ter passado pelo que passei.”

Como a maioria das mulheres, Long considerava a biópsia de mama como o padrão ouro, uma forma infalível de identificar câncer.

“Eu achava que era bem claro”, disse Long, que é uma enfermeira.

Na verdade, o diagnóstico do estágio inicial do câncer de mama pode ser surpreendentemente difícil, propenso a puro erro ou desacordo caso a caso sobre se um aglomerado de células é benigno ou maligno, segundo um exame pelo “The New York Times” dos casos de câncer de mama.

Os avanços na mamografia e em outras tecnologias de imagem nos últimos 30 anos fazem com que os patologistas clínicos precisem diagnosticar até mesmo as menores lesões na mama, algumas do tamanho de poucos grãos de sal. Discernir a diferença entre lesões benignas e um câncer de mama em estágio inicial é uma área particularmente desafiadora da patologia, segundo registros médicos e entrevistas com médicos e pacientes.

O diagnóstico de CDIS “é uma história de 30 anos de confusão, diferenças de opinião e tratamento insuficiente ou excessivo”, disse a dra. Shahla Masood, a chefe de patologia clínica da Faculdade de Medicina da Universidade da Flórida, em Jacksonville. “Há estudos que mostram que o diagnóstico dessas lesões de mama limítrofes ocasionalmente equivale a tirar no cara ou coroa.”

Há um crescente reconhecimento do problema e o governo federal está financiando um estudo nacional sobre as variações na patologia de mama, com base nas preocupações de que 17% dos casos identificados de CDIS por uma biópsia comum por agulha podem estar diagnosticados de forma equivocada. Apesar disso, não há padrões obrigatórios de diagnóstico ou exigências de que patologistas que realizam o trabalho precisam ter perícia especializada, o que significa que as chances de obter um diagnóstico preciso variam de hospital para hospital.

O dr. Linh Vi, o patologista do Cheboygan Memorial Hospital que diagnosticou o CDIS em Long, não era certificado e disse que lê cerca de 50 biópsias de mama por ano, bem menos que a experiência que importantes patologistas dizem ser necessária para lidar com as nuances dos casos difíceis de câncer de mama. Em resposta a um processo impetrado por Long, Vi mantém que Long teve câncer e que dois patologistas certificados de um hospital vizinho concordaram com seu diagnóstico.

Mas vários especialistas que revisaram o caso de Long discordaram, com um dizendo sem rodeios que os patologistas dela “erraram o diagnóstico”.

As dúvidas que frequentemente cercam os diagnósticos de CDIS ganham uma importância adicional quando combinadas com as críticas de que há diagnósticos exagerados e tratamentos exagerados nos Estados Unidos –preocupações que ajudaram a alimentar a recente controvérsia em torno do uso rotineiro de mamografias em mulheres na faixa dos 40 anos.

A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, um painel independente que emite diretrizes para exames de câncer, apontou em novembro que os efeitos negativos da realização anual rotineira de mamografia por mulheres jovens superam os benefícios da detecção precoce. O painel se referiu especificamente ao diagnóstico exagerado de CDIS, assim como lesões de mama benignas, mas atípicas, que se não fossem detectadas nunca causariam problemas.

O CDIS, que também é chamado de Estágio 0 ou câncer não-invasivo, era um diagnóstico raro antes das mamografias começarem a ser amplamente usados nos anos 80. Antes deles, a patologia de mama geralmente envolvia a leitura do tecido à procura de caroços palpáveis. Os diagnósticos – geralmente de câncer invasivo, um tumor fibroso benigno ou um cisto – frequentemente eram óbvios.

Hoje, o CDIS é diagnosticado em mais de 50 mil mulheres por ano apenas nos Estados Unidos. As células anormais, que ficam envolvidas nos dutos da mama, são removidas antes que se desenvolvam em câncer invasivo. Há estimativas de que se permanecer não tratada, a condição se transformará em câncer invasivo em 30% das vezes, apesar de que poderia levar décadas em alguns casos.

Preocupada com a precisão da patologia de mama, o Colégio de Patologistas Americanos disse que iniciaria um programa voluntário de certificação para patologistas que diagnosticam tecido de mama. Entre suas exigências está a de que os patologistas leiam 250 casos de mama por ano.

“Não há duvida de que há um problema, e esse é o motivo para iniciarmos este programa de certificação”, disse o dr. James L. Connolly, diretor de patologia anatômica do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston.

Apesar do programa ainda nem ter começado, ele é controverso.

Com centenas de milhares de biópsias de mama realizadas por ano, alguns patologistas deverão perder negócios, disse Connolly, caso médicos e pacientes exijam que seus exames passem por um patologista certificado.

O dr. Dennis Citrin, oncologista do Midwestern Regional Medical Center em Zion, Illinois, que disse a Long que ela não teve CDIS, disse que os esforços para identificar câncer em seus estágios iniciais podem beneficiar os pacientes, mas também criam problemas.

“Nós agora estamos tentando mudar a trave do gol” disse Citrin. “Nós estamos tentando fazer o diagnóstico cada vez mais cedo. Haverá pacientes onde ocorrerá confusão ou diferença de opinião nesse espectro de mudanças, quanto mais cedo se busca identificar um processo. Por isso há casos como o de Monica.”

Erro de diagnóstico identificado

Em 2006, o Instituto Susan G. Komen pela Cura, uma influente organização das sobreviventes de câncer de mama, divulgou um estudo surpreendente. Ele estimou que em 90 mil casos, as mulheres que eram diagnosticadas com CDIS ou câncer invasivo de mama não tinham a doença ou seu patologista cometeu um erro que resultou em um tratamento incorreto.

Após o relatório do Komen, o Colégio de Patologistas Americanos anunciou vários passos para melhorar o diagnóstico de câncer de mama, incluindo o programa de certificação para patologistas.

Para a comunidade médica, os resultados do Komen não causaram surpresa, já que o risco de diagnóstico errado foi amplamente tratado na literatura médica. Um estudo de 2002, por médicos do Centro Médico da Universidade do Noroeste, revisou a patologia em 340 casos de câncer de mama e descobriu que 7,8% deles apresentavam erros sérios o suficiente para causar mudança nos planos de cirurgia.

Mas alguns patologistas consideraram a resposta a esses tipos de estudos como sendo lenta e inadequada.

Para diagnosticar câncer de mama, os patologistas olham para slides montados com finas fatias de tecido de mama. Os slides são tingidos com uma tinta que acentua os padrões de círculos e pontos, cada um representando uma célula, seu núcleo e membrana. O diagnóstico depende da aparência dessas células sob um microscópio.

Nos hospitais maiores, os resultados costumam ser apresentados a um painel, no qual uma equipe de médicos de várias disciplinas revê o relatório e desenvolve um plano de tratamento.

Vários laboratórios de patologia também se especializam em oferecer uma segunda opinião.

O dr. Michael Lagios, um patologista do St. Mary’s Medical Center em San Francisco, revê exames de mulheres que querem uma segunda opinião. E o que ele encontra o preocupa.

Em 2007 e 2008, ele revisou 597 casos de mama e encontrou discrepâncias em 141 deles, incluindo 27 casos onde CDIS foi diagnosticado erroneamente. Lagios diz que com base em sua experiência, as biópsias com agulha fina de CDIS de baixo grau e lesões benignas, chamadas de hiperplasia ductal atípica, ou HDA, podem ser interpretadas erroneamente em 20% das vezes.

Além de diagnósticos errados, há escolas de pensamento diferentes a respeito do que constitui CDIS. As variações de diagnóstico podem depender em parte de onde a mulher é tratada.

Em San Francisco, Lagios usa um critério que diz que algumas lesões de mama com menos de dois milímetros não são CDIS, mesmo que apresentem outros marcadores da condição.

No Beth Israel Deaconess Medical Center em Boston, também renomado por seus serviços de patologia de mama, essas lesões são consideradas CDIS, segundo Connolly.

Lagios diz que conversa frequentemente com pacientes com dificuldade em entender os vários diagnósticos diferentes.

“Isso deixa a mulher totalmente confusa”, ele disse.

O medo aumenta a confusão, e apesar do CDIS ser 90% curável, há uma crescente preocupação de que as mulheres e seus médicos optam por mais cirurgia agressiva, radiação e terapia com drogas do que o necessário.

Uma mastectomia às vezes é oferecida como opção para CDIS, apesar dos especialistas dizerem que ela geralmente não é aconselhável a menos que o CDIS seja grande ou apareça em vários pontos na mama.

Porém mais mulheres que se veem diante de um diagnóstico de CDIS ficam com tanto medo que optam pela remoção de ambos os seios, frequentemente contrariando a recomendação de seu médico.

Entre as mulheres que passaram por cirurgia para CDIS, a taxa de mastectomia dupla aumentou de 2% em 1998 para 5% em 2005, segundo um estudo do ano passado.

O dr. Ira J. Bleiweiss, chefe de patologia cirúrgica do Mount Sinai Medical Center em Nova York, disse que idealmente todos os diagnósticos de câncer de mama seriam encaminhados para uma segunda opinião. Ele alerta pacientes e seus médicos: “Não corram para a mesa de operação”.

Desde sua cirurgia, Long tem lutado com várias emoções – alívio, revolta, culpa.

Como enfermeira em um hospital de câncer, ela encontra muitas pessoas pegas pelas mandíbulas da doença. Long diz que elas fornecem um lembrete constante de quão afortunada ela foi.

Mas há outro lembrete toda vez que ela toma banho – os resultados desfigurantes de sua cirurgia.

“Eu acho que daria para lidar um pouco melhor com a desfiguração caso tivesse ocorrido por um propósito real”, disse Long. ”O duro foi descobrir posteriormente que não era necessária.”

Shayla Harris contribuiu com reportagem.

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