segunda-feira, 15 de setembro de 2008

MULHERES... MULHERES...




Mulheres bem-sucedidas têm menos chances de formar família



"No começo eu pensava estar acima de qualquer coisa. Você se apresenta, o médico lhe mostra uma gama de opções de alta tecnologia e essa é uma coisa poderosa _a promessa de um filho. Mas antes que perceba você já fracassou pelo terceiro ano consecutivo e está começando a se sentir usada e abusada, sem mencionar que você está quebrada. Você se senta nas clínicas de reprodução cujas paredes estão cobertas de figuras de bebês, mas a despeito do fato de que está tentando tão duramente quanto sabe, não consegue nenhum daqueles bebês.


Não estou mais segura de que essa tecnologia seja remotamente um fato de poder. Você pega uma mulher da minha geração, alguém que é certamente realizada, mas que está em seus 40 anos e não tem um filho. Essa tenologia se torna uma maneira de dizer a ela que qualquer coisa que realizou não é o bastante. E então, quando ela fracassa em conseguir ficar grávida_e a maioria fracassa_ isso apaga seu senso de competência profissional e sua confiança como mulher. Sei que esses procedimentos deixaram-me mais deprimida que qualquer outra coisa em minha vida"


O relato acima é de Wendy Wasserstein, uma das mais premiadas autoras de peças da Brodway, que durante dez anos lutou para conseguir gerar um bebê. Consegui tê-lo aos 48 anos, com óvulos doados. A menina Lucy nasceu prematura, aos seis meses de gestação.


O depoimento faz parte de um livro bem interessante que estou lendo chamado "Maternidade Tardia". Na obra, a autora Sylvia Hewlett constata que quanto mais bem-sucedida profissionalmente é a mulher, mais dificuldades ela encontrará para achar um parceiro ou ter um bebê. E o mais triste: essa situação não foi uma escolha delas. Simplesmente o tempo passou e e elas estavam ocupadas demais para perceber isso.


Hewlett, economista e analista política, fez várias pesquisas e entrevistas com norte-americanas bem-sucedidas e concluiu que: 33% das mulheres de alta realização (que ganham mais de 65 mil dólares) não têm filhos na idade de 40 anos e esse quadro aumenta para 42% nas corporações norte-americanas. Entre as ultra-realizadas (com ganhos acima de 100 mil dólares), o percentual chega a 49%. Em contraste, apenas 25% dos homens bem-sucedidos não têm filhos na idade de 40 anos e isso cai para 19% entre os ultra-realizados.


O livro revela circunstâncias que têm conspirado para criar brutais contradições nas vidas das mulheres profissionais: a cultura das longas horas de trabalho das empresas, a tradicional divisão de trabalho doméstico e uma indústria da fertilidade, que embala mulheres numa falsa segurança de que poderão ficar grávidas mesmo na meia-idade. Os relatos que Hewlett captura são bem honestos e as informações contidas em sua nova pesquisa, devastadoras. Chega a doer. Ainda assim, vale a pena ler a obra para, mais uma vez, termos a certeza de que essa dor é mesmo universal.

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